Na sua génese, sensivelmente, todas as sociedades principiaram por se organizar em estruturas políticas monárquicas. Talvez por isso, por um princípio de direito natural, na iconografia popular não há lugar à terminologia republicana, pois há sempre uma princesa a ser resgatada por um príncipe de um qualquer destino trágico, tal como só faz sentido haver um Rei do Rock, um Rei da Pop, Princesas da Pop e o Prince, claro.
Existe de facto um misticismo de alta condição em torno da Figura Real!
O olhar fito do Rei a si conduz
Os olhares fitados e vizinhos
O Rei fala, e um seu gesto tudo prende,
O som da sua voz tudo transmuda.
E a sua viva Majestade esplende.
– Fernando Pessoa, 31/07/1935
Seria estranho escutar a expressão o “Presidente/a da Pop”, porque só um Rei dá ânimo e estimula a auto-estima da Comunidade, pois um Rei é um grande motivo de orgulho para o Seu Povo, que sabe ter na Figura Real a encarnação da história da Nação e da gesta de um Povo. É algo natural atribuir a alguém que se destaca desmedidamente numa determinada área artística um título “real”, porque no âmago todos somos monárquicos. Não haveria nexo em outorgar a uma figura desta envergadura outro rótulo que não fosse de tal grandeza.
Há uma relação imediata entre um Rei e os cidadãos do seu país, que hoje não são vassalos e nem sequer já súbditos. Estes cidadãos de pleno direito vêem no Rei a referência e, também, a última, e por vezes derradeira instituição, que sentirá as suas necessidades e, porque não raras vezes os interesses mais arbitrários do Estado tomam a forma e a cor do direito para se imporem, o defenderá perante a possível prepotência dos políticos, pois façamos um prolongamento lógico: esta transformação do Estado pode em última instância conduzir ao aparecimento de regimes não democráticos de diversas inspirações.
No estado democrático e social de direito não há um governo representativo clássico, mas uma democracia representativa, pelo que pode um governo ser eleito com um determinado programa legislativo e depois dar uma volta de 180 graus e governar de forma completamente diversa do que prometeu quebrando assim o contrato social que estabeleceu com os seus eleitores, reclamando uma legitimidade democrática que já não possui, que escolhe por nós e nos diz como devemos viver.
Assim, torna-se necessária uma Entidade com consciência da virtude da dignidade da pessoa humana, a quem não desperta um gosto por poder e/ou privilégio, pelo que a Coroa será sempre mais progressiva que uma Presidência, pois não fica confinada ou agarrada à defesa de interesses políticos, e o Rei educado para o serviço e missão que é reinar tomará o ser cargo por um ofício dedicado ao bem-estar do seu Povo e à defesa dos interesses do seu País.
Miguel Villas-Boas – Plataforma de Cidadania Monárquica