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♔ | 13 de Novembro de 1460 – Morre o Infante D. Henrique, ‘O Navegador’

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O Infante Dom Henrique de Avis, 1.º Duque de Viseu e 1.º Senhor da Covilhã (Porto, 4 de Março de 1394 – Sagres, 13 de Novembro de 1460), foi um infante português e a mais importante figura do início da era dos Descobrimentos, popularmente conhecido como Infante de Sagres ou O Navegador.
O Infante Dom Henrique era o quinto filho d’El-Rei Dom João I e de Dona Filipa de Lencastre, e, nasceu na cidade do Porto, provavelmente no Paço que é hoje a Casa do Infante, numa Quarta-Feira de Cinzas, a 4 de Março de 1394. O Infante Dom Henrique de Avis foi o 1.° Duque de Viseu – a par do seu irmão D. Pedro (O Infante das Sete Partidas), foram os primeiros a receber título de Duques – e 1.° Senhor da Covilhã, foi ainda o 4.° Português a ser agraciado com a Ordem da Jarreteira, pois enquanto filho da Rainha Dona Filipa de Lencastre era bisneto do Rei Eduardo III de Inglaterra.
O Infante Dom Henrique ficou conhecido pelo epíteto d’O Navegador, pois o teve um papel determinante na expansão portuguesa ultramarina que principiou em 1415, com a conquista de Ceuta. A 25 de Maio de 1420, O Infante D. Henrique foi designado governador da Ordem de Cristo.
Nem vamos abordar o papel guerreiro que o Infante D. Henrique teve nos Descobrimentos portugueses, mas sim, ‘talent de bien faire’, o seu papel como patrocinador da criação de uma cadeira de Astronomia na Universidade de Coimbra, ou o seu empenho no desenvolvimento da Caravela, de portulanos, de roteiros e de instrumentos náuticos que facilitassem essas mesmas descobertas por parte dos navegadores. “O Navegador” investiu toda a sua fortuna em investigação relacionada com navegação, náutica e cartografia, dando início à epopeia dos Descobrimentos. Esta descoberta geográfica do Mundo empreendida pelos portugueses que se expandirá por séculos, é reflexo do paradigma do Renascimento na medida que o humanismo não se trata apenas de um ideal de cultura, mas um ideal de pensamento de confiança no Homem. Com os Descobrimentos, Portugal participou na primeira linha da construção de um admirável Mundo Novo.
O sabant italiano Poggio Bracciolini compara os feitos do Infante Dom Henrique aos de Alexandre, o Grande, ou aos de Júlio César, exaltando-os ainda mais por serem descobertas de lugares até, então, desconhecidos da Humanidade.
O Infante D. Henrique era um dos homens mais ricos e poderosos da sua época, mas apesar disso regia-se por princípios da mais rigorosa ética. Tal como toda a Ínclita Geração recebeu uma esmerada educação, mas sem descurar a vertente religiosa. A sua moral enquadra-se dentro do moralismo puritano inglês, por influência da Mãe que antes de ser Rainha de Portugal era neta do Rei inglês e filha do Duque de Lencastre – o homem mais poderoso de Inglaterra que Rei não fosse.
Viveu segundo a divisa que adoptou: Talant de bien faire (locução em francês antigo que significa ‘vontade de bem fazer’) – que exorta ao esforço pessoal no sentido da perfeição.
A 21 de Agosto de 1415 o exército Português sob o comando d’El-Rei D. João I de Portugal, desembarca em Ceuta, conquistando a cidade norte-africana.
Uma armada constituída por 212 navios de transporte e vasos de guerra (59 galés, 33 naus e 120 embarcações pequenas) transportou um exército estimado entre 19.000 a 20.000 cavaleiros e infanções portugueses, ingleses, galegos, etc.. Na força expedicionária que partira de Lisboa, em 25 de Julho de 1415, estavam El-Rei Dom João I, os príncipes D. Duarte (o herdeiro), D. Pedro, Duque de Coimbra e o Infante Dom Henrique, Duque de Viseu, o Condestável do Reino Dom Nuno Álvares Pereira e todo o livro azul da Nobreza portuguesa do século XV.
Depois de uma escala em Lagos, a 21 de Agosto ancoraram frente Ceuta, desembarcando sem encontrar resistência por parte dos mouros.


A guarnição sarracena de Ceuta correu a fechar as portas da cidade, mas as tropas portuguesas impediram-no lesta e rapidamente, e ainda que as tropas portuguesas estivessem preparadas para uma operação de cerco convencional, a conquista da cidade de Ceuta foi dada por terminada ao fim de apenas algumas horas de intensos combates, bairro a bairro, rua a rua, com os portugueses a invadir com vigor a praça-forte, irrompendo através de uma porta que os defensores não conseguiram fechar prontamente.
Finda uma noite de intensa peleja, pela manhã de 22 de Agosto, Ceuta estava abduzida pelas tropas portuguesas, e coube a D. João Vasques de Almada hastear a bandeira de Ceuta, com os gomos brancos e pretos como na bandeira de Lisboa, e com o então brasão de armas do Reino de Portugal ao centro, e que perdura até aos dias de hoje.
Após a tomada da mais bela e mais florescente cidade da Mauritânia, no norte de África, El-Rei Dom João I procede ao ritual de armar cavaleiros os filhos D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique, que se haviam ilustrado pelas armas no campo de batalha.


Após a Santa Missa, os três Infantes, usando reluzentes armaduras, foram armados cavaleiros pelo Rei seu Pai, com a espada abençoada pela Rainha Dona Filipa de Lencastre, mulher de D. João I e mãe de tão ínclita Geração, e que falecera tocada pela peste, na véspera da partida da expedição para Ceuta.
Assim, ao Infante Dom Henrique devem-se feitos como a tomada de Ceuta em conjunto com seu pai e irmãos; a armada das Canárias; a guerra que os seus navios faziam aos piratas; o povoamento das “descobertas” ilhas Atlânticas, sobretudo da Madeira. Foi ele quem mandou vir da Sicília a cana-de-açúcar e os “peritos” para monitorizarem o seu cultivo e a sua transformação, fazendo da Madeira uma relevante região produtora de açúcar.
Partiu para a sua derradeira viagem a 13 de Novembro de 1460.
Existe uma grande celeuma sobre qual seria a real aparência do Infante D. Henrique, e que o retrato que tem sido divulgado por mais de um século como sendo do Infante, muito provavelmente, não corresponde à sua real fisionomia.


O retrato que comummente aparece como sendo o do Infante, com o icónico chapeirão, muito provavelmente não é de D. Henrique, pois apareceu dobrado dentro de um manuscrito da Crónica dos feitos da Guiné, de Gomes Eanes de Zurara, quando a Bibliothèque Nationale de Paris adquiriu o manuscrito, e poderá tratar-se de um retrato flamengo de um desconhecido, pintado sobre folha solta que ficou dobrada por um longo período de tempo e depois acrescentada ao manuscrito. A verdadeira imagem do Infante estaria na estátua no pórtico sul do Mosteiro de Santa Maria de Belém, vulgarmente conhecido como Mosteiro dos Jerónimos, e que foi feita 50 anos depois da morte, e a outra está no Mosteiro da Batalha, na Capela dos Reis, que foi feita com base numa máscara de gesso, cujo molde tiraram depois de D. Henrique falecer. À dos Jerónimos foi encomendado uma pintura com as cores naturais a Aristides Ambar.
O que interessa é que nunca O esqueceremos e nunca deixaremos apagar os Seus feitos da memória colectiva portuguesa.

Miguel Villas-Boas | Plataforma de Cidadania Monárquica

Fernando Pessoa in ‘Mensagem’ dedicou-lhe o poema “O INFANTE”:

‘Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!’

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